Em um relatório especial da Focus Gaming News, líderes da indústria comentam como o mercado brasileiro despertou de vez.
Brasil – A partir de 1º de janeiro, o país deu um passo histórico ao iniciar a regulamentação do jogo online, marcando uma nova era para um mercado que por anos foi tratado como um “gigante adormecido”. Com mais de 210 milhões de habitantes, paixão pelo esporte e um volume estimado de R$100 bilhões em apostas em 2023, as expectativas eram altas — e foram superadas já no primeiro trimestre.
A Lei 19.740 trouxe estrutura para um setor até então sem regulamentação, com exigências como verificação de identidade (KYC) e a implementação do sistema de monitoramento Sigap. Além disso, a atuação do governo no bloqueio de aproximadamente 11 mil sites ilegais impulsionou a migração dos apostadores para plataformas legalizadas. Segundo Rogério Lucca, secretário executivo do Banco Central, os brasileiros estão apostando mais de US$5 bilhões por mês — um número 50% acima das previsões iniciais.
Para entender melhor esse início de operação, a Focus Gaming News conversou com representantes de empresas líderes que já atuam no país.
Um mercado acelerado desde o início
A velocidade com que o mercado brasileiro evoluiu surpreendeu muitos profissionais. Steven Valentine, diretor comercial da Comtrade Gaming, disse que embora as exigências iniciais de KYC tenham afetado os depósitos, as operadoras rapidamente otimizaram seus processos, trocando fornecedores com frequência para manter desempenho.
Para Lusia Barseghyan, COO da Oddsgate, o ritmo foi intenso desde o primeiro dia: “Foi uma corrida. Estávamos construindo, ajustando e aperfeiçoando tudo para cumprir as novas normas sem perder qualidade.” A cooperação entre operadoras, fornecedores e reguladores gerou um ambiente ágil e colaborativo.
Aaron Axisa, da Booming Games, destacou a procura por conteúdos certificados: “Operadoras estão buscando jogos legalmente aprovados e com bom desempenho, o que nos dá uma vantagem.” O jogo Burning Classics se destacou, refletindo o gosto do público brasileiro por jogos dinâmicos e de alta volatilidade.
A TaDa Gaming também notou a popularidade dos jogos tipo pesca-tiro, que se alinham à cultura digital e social do público local. O crescimento da receita nos cassinos online superou todas as projeções iniciais, segundo dados de consultorias como H2 Gambling Capital e Eilers & Krejcik Gaming.

Pix, mobile e comportamento do público
A preferência pelo celular e pelo Pix é evidente. Um porta-voz da Lynon disse que 86% dos apostadores usam smartphones, impulsionados por uma penetração de internet móvel de 81%. “O uso do Pix, presente em 99% das apostas, nos surpreendeu. São cerca de 24 milhões de usuários ativos com essa opção.”
A TaDa Gaming observou que o público mais jovem incorporou os jogos online como parte da rotina de entretenimento. “Nunca vimos uma adesão tão rápida em outros mercados”, afirmou a empresa. Muriel Le Senechal, da Fast Track, destacou a importância de uma abordagem personalizada: “Nosso sistema permite criar experiências únicas em tempo real, transformando dados em engajamento significativo.”
O futebol, claro, teve papel central. Hoje, praticamente todos os grandes clubes do país contam com patrocinadores do setor de apostas. “O impacto imediato dessas parcerias foi surpreendente”, disse um representante da TaDa Gaming. O investimento de US$50 milhões da Flutter Entertainment na Betnacional confirma o apelo do mercado.
Superando o título de “gigante adormecido”
O apelido de “gigante adormecido” ficou para trás. Segundo o Aposta Legal, as plataformas brasileiras registraram mais de 5 bilhões de visitas no primeiro trimestre de 2025 — um aumento de 90% em relação ao trimestre anterior. Março sozinho bateu o recorde com 1,8 bilhão de acessos, impulsionado por ações de marketing de Betano, Superbet e Bet365.
A Betano liderou, com 1,1 bilhão de acessos, crescendo 25% em um mês. Para se ter uma ideia: com esse volume de tráfego, seria possível lotar o Maracanã a cada dois minutos.
“Do potencial à performance em tempo recorde”, afirmou Axisa. Kateryna Manetska, do jurídico da DATA.BET, disse que o Brasil se consolidou como uma potência ativa no cenário mundial. Mais de 70 operadoras já têm licença ou pré-aprovação. Marco Pequeno, da Amusnet, reforça: “Estamos construindo uma base sólida para um crescimento duradouro.”
Celina Guedes, da EGT, aponta que os jogadores brasileiros têm acesso ao que há de melhor no mercado, e que os produtos serão ainda mais adaptados às preferências locais. Steven Valentine completa: “Estou impressionado com o nível de transparência. As operadoras estão abertas ao diálogo, o que é raro nesse setor.”
Casinos online e um horizonte promissor
Zak Gusarov, da Uplatform, acredita que as apostas esportivas continuarão liderando, mas que o verdadeiro potencial está nos cassinos online, que devem ser lançados em breve. “Quando isso acontecer, os slots e os jogos ao vivo vão explodir em popularidade”, disse. Olga Levshina, da BGaming, vê forte engajamento dos jogadores e aumento no número de operadores licenciados como sinais claros do potencial brasileiro.
Jogadores exigentes e mercado maduro
Os apostadores brasileiros surpreenderam o setor pela sofisticação. “Eles já demonstram comportamentos típicos de mercados maduros, exigindo saques rápidos, estatísticas ao vivo e ampla variedade de apostas,” comentou uma fonte da Lynon. Axisa citou o sucesso do jogo do Ronaldinho como exemplo de conexão emocional com o público local.
Manetska elogiou a agilidade da regulamentação e os incentivos à participação nacional, como a exigência de 20% de capital brasileiro. Para Marco Pequeno, o padrão ético das empresas e a preferência dos jogadores por operadores legalizados mostram que o país está pronto.
Sigap e impacto financeiro
Um dos pilares do novo sistema é o Sigap, ferramenta de monitoramento criada pelo Serpro para o Ministério da Fazenda. Até março de 2025, o sistema processava 500 milhões de dados por dia, abrangendo 77 operadoras e 174 marcas registradas. Kamila Duarte, do Serpro, informou que mais de 1,69 milhão de arquivos já foram processados, incluindo apostas, carteiras digitais e perfis de usuários.
Fabio Macorin, secretário adjunto de Monitoramento e Fiscalização, afirmou que o Sigap é essencial para garantir transparência e responsabilidade no setor, fortalecendo a confiança dos consumidores.
Um novo capítulo para o jogo online no Brasil
O primeiro trimestre do Brasil como mercado regulamentado de apostas online foi transformador. O crescimento acelerado, aliado ao alto engajamento e foco no mobile, está redesenhando o setor.
O sucesso, no entanto, levanta questões importantes sobre responsabilidade social, impacto econômico e sustentabilidade a longo prazo. Por enquanto, o mundo segue atento enquanto o “gigante adormecido” se firma como líder. Como resume Zak Gusarov, “Não é só um mercado — é um movimento.”
A Focus Gaming News publicará na próxima semana uma matéria especial sobre os desafios futuros e possíveis mudanças regulatórias no setor brasileiro de jogos online.